quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O bife do 403...

Eram mais ou menos 11h da manhã e o interfone do prédio me acordou. Eu percebi que tinha dormido além do horário e fiquei desesperado porque o meu filho entrava na escola 12:00.

Corri para atender o porteiro que me disse que era a comida que eu tinha pedido no Ifood! Eu zonzo de sono falei "pode subir" e fui acordar o meu filho, dar banho porque ele estava todo suado, botar uniforme e o cacete.

Chegou a comida na minha porta e eu peguei a quentinha desesperado porque meu filho saindo do banho todo molhado, correndo de um lado para o outro com a camisa do uniforme na cabeça.

Vesti o pequeno, arrumei o uniforme, coloquei ele sentado e abri a comida colocando tudo em um prato fundo já gritando para ele comer tudo. Não tinha nem 20 minutos para entrar na escola.

E foi aí que eu vi que a etiqueta do pedido do Ifood dizia apartamento "403" e eu moro no "503"!

Com a cabeça ainda girando lembrei que naquele dia não tinha pedido comida. Tinha  acordado tarde e logicamente esquecido! Ainda demorou para o meu cérebro se dar conta de que eu nunca poderia ter pedido iFood dormindo, por melhor e mais avançado que seja o aplicativo!

Enquanto isso meu filho comia as batatas fritas todo feliz, apesar de eu sempre pedir purê para ser mais light e natureba.

Nessa hora eu não sabia se pedia para o meu filho comer mais rápido ou se eu tirava o prato. Resolvi ligar para o restaurante e tive que explicar para um atendente completamente atordoado que eu queria comprar um prato com carne e batatas para eles entregarem no 403 e não no meu apartamento. Ainda tinha que ser urgente, porque meu filho tinha comido o bife do vizinho por engano...

O resultado final: um rapaz veio no meu prédio e entregou a comida que eu paguei para o 403 com 20 minutos de atraso. Eu sei disso porque quase que ele entrega no local errado novamente. Ah, e meu filho chegou tarde na escola dizendo que tinha gostado de comer bife...

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lembranças do Makro!

Dizem que a gente só percebe o melhor momento das nossas vidas depois que ele passa. Isso é verdade. Queria aproveitar este espaço para registrar ótimas lembranças que aconteceram quando eu tinha 10 anos de idade.

Naquela época, meu pai tinha uma loja de rua que vendia doces, salgados e refeições. Foi o sustento da nossa família por mais de uma década. Por muito tempo eu vi meu pai envolvido em comprar refrigerantes, sorvetes e várias outras coisas em grande quantidade. Era muito divertido receber as encomendas pela manhã e ver como tudo se arrumava.

Quando eu já estava um pouco mais crescido, meu pai perguntou se eu não queria acompanhá-lo nas suas idas aos mercados da Barra da Tijuca. Mas espera que isso requer uma explicação!

Na década de 80 havia poucos hipermercados no Rio de Janeiro, sendo a maioria deles na Barra. Meu pai preferia ir nestes locais para comprar o que a loja precisava para toda a semana. Antigamente a Barra era quase um local fantasma, o shopping existia há pouco tempo e alguns mercados grandes ocupavam áreas de aluguel barato e relativamente próximas aos grandes centros.

Nossa ida aos mercados da Barra passou a se repetir toda segunda-feira por muitos anos. Isso já era certo e eu lembrava ansiosamente desde o final de semana que faríamos aquela viagem incrível pelo alto da boa vista, a cruzada pela avenida das Américas e pela atual Ayrton Senna, finalmente descendo a Grajaú-Jacarepaguá de volta para a Tijuca, isso já tarde da noite.

A nossa primeira parada na Barra era o FreeWay, onde meu pai preferia comprar arroz, óleo e outras coisas em quantidade. Era mais barato, mas não era o objetivo principal.

No Carrefour o grosso das compras era feito. A gente sempre comprava um monte de bobagens na hora: biscoitos, chocolates e qualquer outra coisa nova que a gente encontrava.  Naquela época essa era a única oportunidade de ter contato com produtos importados.

Na saída do Carrefour o carro já estava abarrotado com caixas e sacolas. Muito arroz, feijão, macarrão e quantidades absurdas de tudo. Mas ainda havia uma última etapa a ser religiosamente cumprida: o Makro.

No antigo supermercado Makro a gente parava para comprar produtos especiais no atacado. Naquela época só podia entrar nesse mercado se você fosse lojista e não podia levar crianças. Meu pai dizia que eu tinha 15 anos e acabavam deixando a gente entrar.

Comprávamos chicletes, doces e outras coisas para vender na loja. Eu gostava de ir em cima daquele carrinho de compras diferente que tinha no Makro, que mais parecia um guincho. Era muito legal!

Posso dizer que vivi a história do Brasil naquelas segundas de Barra: durante o desabastecimento do plano cruzado, eu e meu pai lutávamos para conseguir comprar mantimentos básicos que sumiam das prateleiras, durante o plano Collor muitas marcas importadas apareceram e durante o plano Real nós fazíamos contas com a URV, moeda provisória atrelada ao dólar.

Em uma dessas idas no Makro meu pai se apaixonou por um aparelho de som com toca-fitas e rádio e comprou na hora! Foi um dia ainda mais legal, porque a gente chegou em casa e montou o aparelho na sala onde ele ficou por tantos anos.

Ao final das compras a gente sempre parava no restaurante e lanchonete do Makro: uma mistura da fast food com bandejão. Nem lembro o que a gente comia, mas era tão divertido!

A volta era demorada e as vezes a gente pegava engarrafamento. A chegada de volta na loja, que tinha ficado funcionando com a minha mãe no caixa, era trabalhosa para guardar toda aquela quantidade de coisas que a gente havia comprado. Mas naquela época tudo isso para mim era diversão!

Muitos anos se passaram e ir até a Barra começou a não valer mais tanto a pena. O próprio comércio do meu pai foi ficando mais difícil com as eternas crises econômicas brasileiras e ao final de 2002 a loja fechou de vez.

O que ficou disso tudo foi a saudade e as boas lembranças dos tempos que não voltam mais. Um momento tão feliz da minha vida, mas que eu nem me dei conta que lembraria décadas depois. 

Mas tudo bem! Eu e meu filho hoje vamos ao mercado e ele não perceberá o quanto isso é precioso. É a vida seguindo seu caminho...

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A Glauciana está?

Alguma Glauciana pegou dinheiro no Itaú e deixou o telefone aqui de casa no cadastro como se fosse residência dela. Agora, que aparentemente as parcelas do tal empréstimo estão atrasadas, o banco liga para a minha casa o dia inteiro desesperado.

Eu já disse que não tem nenhuma Glauciana aqui em casa, mas eles não entendem e continuam ligando. Hoje foram cinco tentativas.

Em uma dessas ligações, a atendente, muito comportada, me disse que "foi engano". O tom mudou completamente quando eu falei que "não era engano", que eles estavam "enchendo o saco". Ela danou-se a se irritar comigo.

Parece que eles não gostam muito quando o outro lado incomoda dizendo bobagens. Que coisa!

A próxima vez vou dizer que Glauciana morreu, eu matei e vocês do Itaú são os próximos! Ei! Boa ideia para um episódio de Dexter...

terça-feira, 12 de junho de 2018

Memórias estáticas

Sonhei com uma música antiga, que eu nem gostava, mas que me levou à infância. Ainda dormindo eu sabia, certinho, onde poderia encontrar o disco de vinil e em qual faixa aquela canção chatinha estava gravada. Me vi abrindo o armário mais baixo da minha casa, logo na entrada próximo à porta, puxando um a um aqueles grandes retângulos, cada um com uma história.

Acordei triste porque este local, cheio de discos antigos, não existe mais. Estava lá só quando eu era pequeno. O apartamento foi vendido. Os móveis, discos, sabe-se lá que fim levaram. Nada disso existirá novamente, não faz parte do mundo em que vivemos.

Mas a tristeza durou pouco, porque eu sei onde encontrar tudo isso novamente. Volto a dormir sorrindo, pois a estante de discos está lá, pronta para ser bisbilhotada. O local ainda persiste, forte e límpido na minha memória, onde ele mais importa.

Assim como todos os detalhes daquele apartamento de fundos, da rua Costa Pereira: as janelas com grades oxidadas, o piso da cozinha, pequeno e azul escuro. O banheiro verde com azulejos diferentes cheio de adesivos, o sinteco fosco e a televisão no centro da sala.

Está tudo lá, ao acessar da minha memória. Momentos felizes e outros nem tanto. Não posso modificá-los, não posso interagir, apenas observar minha mãe corrigindo provas, em uma mesa de madeira, que se abria como mágica. Posso ver meu pai fazendo anotações em uma mesinha de cabeceira perto da cama.

Posso abrir os armários e lembrar das roupas e bobagens que a gente tinha. Será essa a função das coisas? Fazer a gente lembrar de um tempo que não volta mais?

E todos estão lá, aqueles que habitavam a casa, em épocas diferentes, momentos da nossa vida: minha irmã, meus avós, amigos e vizinhos. Estão todos lá!

Acordo novamente, na minha casa, o despertador tocando e a minha vida seguindo. Lembranças novas sendo feitas, enchendo o futuro de sonhos.

sábado, 15 de julho de 2017

Reviews contra a burguesia

Adoro quando reclamam que meus aplicativos tem propaganda: é a prova de como a humanidade é hipócrita.

Nas últimas semanas meus Apps tem sido atacados por reviews de uma estrela reclamando de problemas pequenos e da propaganda. Querem menos propaganda e mais funcionalidade!

Meus apps têm apenas um banner com 150 pixels na parte inferior (ou às vezes superior) da tela. Cerca de 100KB de dados a cada 60s. Meu Deus! Onde iremos parar? Por menor que seja o dispositivo não deve ocupar 10% do display.

A internet é cheia de hype, metido a intelectual, esquerdinha leite-com-pera e anticapitalista de meia tigela. Brigam para destruir a "burguesia" que leram no livro de história, enquanto o Google e o Facebook entubam a grana de todo mundo.

Não ganho muito com banners: cerca de 50 dólares por mês. É um almoço de domingo ou uma compra de mercado. Muito menos do que deveria considerando o quanto eu perdi de tempo desenvolvendo.

Um deles mandou eu trabalhar no McDonalds. Será que estão contratando?

Os direitinhas, a patrulha moral da internet, ficam ofendidos com o aspecto comercial do meu trabalho. Para eles eu deveria gastar meu tempo e oferecer um serviço de qualidade e grátis sem querer nada em troca. Tudo pelo bem da humanidade.

Por esta humanidade? Não quero não...